domingo, setembro 27, 2009

A MADEIRA NA CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL

A maioria das pessoas possui uma visão romântica, porém um tanto equivocada, do que seria uma construção ecológica: uma casa toda de madeira, em meio a muito verde e em harmonia com a natureza.
Afinal, construir com madeira é realmente ecológico???
A resposta é: Não. Não é ecológico, mas pode ser sustentável.
Apesar de tratar-se de um recurso renovável, o desmatamento indiscriminado tem levado à escassez de inúmeras espécies, como o mogno, a imbuia, a cerejeira, a peroba-rosa, o ipê, o jacarandá e outras que foram intensamente utilizadas durante décadas e hoje são raras e caras.
Nos últimos anos, passou a ser amplamente difundido no mercado o uso das “madeiras de reflorestamento” como uma solução para esse problema. No Brasil, as duas espécies mais exploradas para reflorestamento são o Eucalipto e o Pinus. Essas madeiras cultivadas, entretanto, nada têm de ecológico, pois :
1- Esgotam os recursos hídricos e provocam redução da biodiversidade (eucaliptos não oferecem condições para o abrigo de pássaros, por exemplo).
2- Resultam da “monocultura”, um sistema que justamente contraria os ecossistemas naturais, onde predomina a biodiversidade. Na natureza não existem monoculturas.
3- Possuem ciclo vegetativo curto, cujo corte é feito em média a cada 7 anos, não permitindo assim a formação de árvores adultas, mais resistentes a fungos e xilófagos.

O maior problema é que essas madeiras de reflorestamento requerem tratamento por autoclave , que na verdade não passa de um envenenamento em que substâncias químicas poluentes como arsênico e cobre penetram na madeira a fim de imunizá-la contra fungos e cupins e aumentar sua vida útil.
No caso do uso de eucaliptos, seria mais recomendável então utilizar o eucalipto serrado, com mais de 25 anos, cuja árvore tem mais cerne (parte morta imune ao ataque de fungos e cupins) e, portanto, maior resistência.
Apesar de tudo a madeira ainda é o material mais aceitável, já que demanda menor consumo de energia de produção se comparada ao aço, alumínio ou cimento.
Atualmente são duas as alternativas mais recomendadas para quem quer utilizar a madeira de uma forma sustentável:
Madeiras Certificadas: são as madeiras extraídas por manejo florestal que possuem o selo verde do FSC (Forest Stewardship Council), principal entidade do setor com representação no Brasil, cujo processo de certificação comprova que desde a extração da madeira até sua chegada no mercado consumidor não existe agressão ao meio ambiente ou qualquer tipo de irregularidade.
Madeiras Alternativas: são madeiras de excelente qualidade mas pouco conhecidas ainda, que não sofrem pressão comercial e não correm risco de extinção. Ocorrem com mais frequência na região Amazônica. São elas a Muiracatiara-rajada, Roxinho, Cumaru, Bacuri, Garapeira, Itaúba, Tamarino, Tatajuba, Angelim-pedra, Curupixá, Angelim-vermelho, Massaranduba, Jatobá e muitas outras. Essas madeiras são recomendadas pelo IPT e apresentam boa durabilidade e alta resistência mecânica, podendo ser utilizadas na construção civil, arquitetura, movelaria, decoração, etc.



Maria Clara Giannelli Feitosa (claragiannelli@uol.com.br) é arquiteta, fotógrafa, mosaicista e membro do grupo ecológico Maitan.

Fonte: IDHEA (Instituto para o Desenvolvimento da Habitação Ecológica)

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