domingo, setembro 27, 2009

TELHADO VIVO

O telhado vivo é originário da Escandinávia e foi introduzido no Brasil pelos imigrantes europeus, sendo que sua maior incidência está em regiões serranas, tal como ocorre na Europa. Entretanto, pelas vantagens que apresentam, tornam-se bastante adequados a cidades de clima tropical. Trata-se do uso de cobertura vegetal em substituição às telhas tradicionais. Seus maiores benefícios são:

- melhorar o conforto térmo-acústico por meios naturais, mantendo a umidade, contribuindo para a formação de um microclima para a edificação e diminuindo a demanda de ar condicionado.
- Filtrar a água da chuva, permitindo sua captação e aproveitamento e evitando sobrecarregar a rede de esgotos.
- Absorção da radiação solar e transformação do CO2 em O2 pela fotossíntese e filtragem do ar, reduzindo a poluição das águas pluviais e melhorando a qualidade da água de rios e lagos.
- Integrar a construção ao paisagismo, conferindo-lhe grande plasticidade.

Embora sua execução seja simples, recomenda-se contratar mão-de-obra experiente a fim de evitar problemas futuros que venham a comprometer a estrutura do telhado, como infiltração de água. Normalmente, as coberturas de telhado vivo podem ser de laje ou ter estrutura de madeira ou bambu. Sua instalação é realizada em camadas que facilitam a captação e a filtragem da agua de chuva, podendo ser as seguintes:

- Vegetação de cobertura
- Camada de Substrato (terra comum ou terra vegetal): onde se encontram os nutrientes dando suporte para as plantas.
- Camada de Filtragem (geotêxtil ou bidim): deixa passar água para a camada de drenagem, mas retém a terra.
- Camada de Drenagem (argila expandida): regula a retenção de água, mantendo a umidade e promovendo uma drenagem rápida e eficiente.
- Camada de Proteção (carpete velho): protege a camada de impermeabilização, impedindo danos por raízes agressivas.
- Manta impermeabilizante (ecomanta ou manta de polietileno): impede a infiltração de água no telhado.

É importante lembrar que a manta impermeabilizante deve ser cuidadosamente escolhida e colocada, pois é ela que evitará que a água filtrada pela terra não infiltre pelo telhado. Deve-se escolher uma manta que não degrade com o tempo e nem corra o risco de perfuração durante e após sua instalação.
Quanto às espécies vegetais indicadas para a cobertura do telhado vivo, é fundamental que tenham as seguintes características:

- Enraizamento rápido e bom, porém não agressivo que venha a danificar o sistema de impermeabilização.
- Não apresentem crescimento vertical, mas sim rasteiro.
- Sejam invasoras, para que impeçam o crescimento de outras plantas que venham a competir por espaço e nutrientes.
- Resistência às condições climáticas do lugar.
- Não exerçam grande peso sobre a cobertura, quando esta não for de laje.
- Sugestão de plantas: gramíneas invasoras e rasteiras (grama); grama-amendoím; acalifa-rasteira (rabo-de-gato); sedum (herbácea suculenta); onze-horas; beldroega; brilhantina.




Maria Clara Giannelli Feitosa (claragiannelli@uol.com.br) é arquiteta, paisagista, fotógrafa, e membro do grupo ecológico Maitan.

Fonte: IDHEA (Instituto para o Desenvolvimento da Habitação Ecológica)

SEE – SÍNDROME DO EDIFÍCIO ENFERMO

O termo Síndrome do Edifício Enfermo surgiu na década de 70 na Europa e EUA , sendo aplicado para caracterizar problemas de saúde comuns aos moradores de edifícios, causados pela somatória de poluentes de diversas procedências num mesmo local. Quando mais de 20% dos moradores de um edifício apresentam sintomas como dores de cabeça, irritação nos olhos, dermatites, congestão nasal, rinite alérgica, asma brônquica, náuseas e securana garganta, considera-se que sejam indicativos de SEE.
A poluição atmosférica, dentro do ambiente construído, ocorre através de fumaças de cigarro, escapamento de automóveis, uso de ar refrigerado, tintas, vernizes, colas e resinas, entre outros produtos, todos potenciais emissores de COV’s (compostos orgânicos voláteis), incluindo o formaldeído.
A contaminação da água ocorre por despejo de substâncias químicas diversas, resíduos orgânicos, resíduos de tubulações de chumbo, produtos de limpeza, etc.
No solo (ou piso) a contaminação se dá principalmente através da emissão de radiações em geral, algumas emitidas por pedras ou rochas usadas na construção, como ardósias e mármores.
A poluição sonora decorre da acústica inadequada dos edifícios, que permitem a entrada de sons externos, passando pelo uso de equipamentos eletro-eletrônicos cuja emissão de decibéis supera os limites normais.
Os poluentes biológicos, que também contribuem para a degradação da qualidade do ar interno, são decorrentes da existência de fungos e bactérias que encontram nos carpetes e equipamentos de ar condicionados condições ideais para sua instalação e propagação.
Todos esses fatores, reunidos, contribuem para uma habitação doente, na seguinte proporção:

- Ventilação inadequada : 52%
- Contaminação do ar interno (cigarro, produtos que contêm formaldeído) : 12%
- Contaminação externa : 9%
- Contaminação gerada na fabricação dos produtos : 2%
- Contaminação biológica: 1%
- Causas desconhecidas : 24%

Saúde e bem-estar do ambiente interno

Algumas recomendações de ordem prática são indicadas para prevenir e garantir um ambiente interno saudável e de boa qualidade:

- Ter conhecimento e dispor de dados de todas as fontes de contaminação do ambiente.
- Utilizar materiais cujos componentes tóxicos possam ser levados ao interior da obra.
- Controlar a qualidade ambiental dos materiais de acabamento interno das paredes, pisos e mobiliários.
- Separar áreas com ambientes mais contaminados, como área para fumantes, banheiros, sala de máquinas, etc.
- Promover a renovação do ar interior para manter sua qualidade, estabelecendo os corretos índices de ventilação.
- Utilizar plantas e vegetação que ajudem a manter a qualidade do ambiente urbano, por exemplo: hera (absorve a fumaça de cigarro), cacto (ajuda a absorver a radiação), filodendro, dracena, babosa (absorvem toxinas ambientais).

No próximo artigo vamos conhecer os componentes que se constituem em fonte de contaminação do ambiente construído e os produtos onde eles são encontrados.



Maria Clara Giannelli Feitosa (claragiannelli@uol.com.br) é arquiteta, paisagista, fotógrafa, e membro do grupo ecológico Maitan.

Fonte: IDHEA ( Instituto para o Desenvolvimento da Habitação Ecológica)

O BAMBU

“Um homem pode sentar-se numa cadeira de bambu em uma mesa de bambu, em uma casa de bambu, debaixo de um telhado de bambu, usando um chapéu de bambu em sua cabeça e calçando uma sandália de bambu em seus pés. Ele pode, ao mesmo tempo, segurar em uma de suas mãos uma tigela de bambu, na outra mão um “raxi” e saborear brotos de bambu. Quando acabar a refeição , que foi preparada sob um fogo de bambu, a mesa pode ser limpa com um pano de bambu, ele pode se abanar com um leque de bambu, fazer sua siesta em uma cama de bambu, deitando-se em uma esteira de bambu e descansando sua cabeça em um travesseiro também de bambu. Enquanto isso, seu filho pode estar deitado num berço de bambu, brincando com brinquedos de bambu. Ao levantar-se ele poderia fumar um cachimbo de bambu, pegar uma caneta de bambu e escrever uma carta num papel de bambu, ou jogar seus rascunhos numa cesta de bambu. Com um guarda-chuva de bambu sobre sua cabeça, poderia caminhar sobre uma ponte suspensa de bambu, bebendo água numa caneca de bambu e, ao final, se coçar com um coçador de bambu.”
Foi assim que Edgar Geil descreveu o bambu em seu livro “A Yankee on Yangtse”, em 1904.
A extrema versatilidade do bambu, reunindo numa mesma planta características tão díspares como leveza e resistência, rigidez e flexibilidade, rápido crescimento e longa durabilidade, vem sendo explorada pelos orientais e asiáticos há séculos. São tantas as aplicações para o bambu que fica difícil enumerá-las, basta dizer que existem mais de 1500 usos documentados.
O bambu faz parte da lista das plantas das quais se aproveita tudo, existindo uma espécie mais adequada para cada finalidade:
- O carvão obtido de certas espécies é utilizado na produção de medicamentos e baterias elétricas.
- A fabricação de papel e celulose torna-se mais vantajosa que a madeira e outras espécies vegetais, pois não necessita de replantio após cada corte.
- A polpa (celulose) é utilizada na fabricação do “raion”, com o qual se produz tecido de excelente qualidade.
- O alto teor de amido e celulose pode ser usado também na produção de etanol.
- Na alimentação, o broto de bambu pode substituir o palmito.
- Usado com excelente resultado na fabricação de pisos laminados de tábua corrida, no paisagismo, no artesanato, na fabricação de móveis e utensílios domésticos e na construção civil.
Atualmente, com o apelo ecológico em favor da preservação das florestas tropicais, os olhares estão se voltando novamente para esse material tão generoso, levando a acreditar que será a matéria prima do terceiro milênio.


Maria Clara Giannelli Feitosa (claragiannelli@uol.com.br) é arquiteta, paisagista, fotógrafa, e membro do grupo ecológico Maitan.

Fonte: Ebiobambu – Centro de Tecnologia Experimental em bambu (www.bambubrasileiro.com/ebiobambu)

A MADEIRA NA CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL

A maioria das pessoas possui uma visão romântica, porém um tanto equivocada, do que seria uma construção ecológica: uma casa toda de madeira, em meio a muito verde e em harmonia com a natureza.
Afinal, construir com madeira é realmente ecológico???
A resposta é: Não. Não é ecológico, mas pode ser sustentável.
Apesar de tratar-se de um recurso renovável, o desmatamento indiscriminado tem levado à escassez de inúmeras espécies, como o mogno, a imbuia, a cerejeira, a peroba-rosa, o ipê, o jacarandá e outras que foram intensamente utilizadas durante décadas e hoje são raras e caras.
Nos últimos anos, passou a ser amplamente difundido no mercado o uso das “madeiras de reflorestamento” como uma solução para esse problema. No Brasil, as duas espécies mais exploradas para reflorestamento são o Eucalipto e o Pinus. Essas madeiras cultivadas, entretanto, nada têm de ecológico, pois :
1- Esgotam os recursos hídricos e provocam redução da biodiversidade (eucaliptos não oferecem condições para o abrigo de pássaros, por exemplo).
2- Resultam da “monocultura”, um sistema que justamente contraria os ecossistemas naturais, onde predomina a biodiversidade. Na natureza não existem monoculturas.
3- Possuem ciclo vegetativo curto, cujo corte é feito em média a cada 7 anos, não permitindo assim a formação de árvores adultas, mais resistentes a fungos e xilófagos.

O maior problema é que essas madeiras de reflorestamento requerem tratamento por autoclave , que na verdade não passa de um envenenamento em que substâncias químicas poluentes como arsênico e cobre penetram na madeira a fim de imunizá-la contra fungos e cupins e aumentar sua vida útil.
No caso do uso de eucaliptos, seria mais recomendável então utilizar o eucalipto serrado, com mais de 25 anos, cuja árvore tem mais cerne (parte morta imune ao ataque de fungos e cupins) e, portanto, maior resistência.
Apesar de tudo a madeira ainda é o material mais aceitável, já que demanda menor consumo de energia de produção se comparada ao aço, alumínio ou cimento.
Atualmente são duas as alternativas mais recomendadas para quem quer utilizar a madeira de uma forma sustentável:
Madeiras Certificadas: são as madeiras extraídas por manejo florestal que possuem o selo verde do FSC (Forest Stewardship Council), principal entidade do setor com representação no Brasil, cujo processo de certificação comprova que desde a extração da madeira até sua chegada no mercado consumidor não existe agressão ao meio ambiente ou qualquer tipo de irregularidade.
Madeiras Alternativas: são madeiras de excelente qualidade mas pouco conhecidas ainda, que não sofrem pressão comercial e não correm risco de extinção. Ocorrem com mais frequência na região Amazônica. São elas a Muiracatiara-rajada, Roxinho, Cumaru, Bacuri, Garapeira, Itaúba, Tamarino, Tatajuba, Angelim-pedra, Curupixá, Angelim-vermelho, Massaranduba, Jatobá e muitas outras. Essas madeiras são recomendadas pelo IPT e apresentam boa durabilidade e alta resistência mecânica, podendo ser utilizadas na construção civil, arquitetura, movelaria, decoração, etc.



Maria Clara Giannelli Feitosa (claragiannelli@uol.com.br) é arquiteta, fotógrafa, mosaicista e membro do grupo ecológico Maitan.

Fonte: IDHEA (Instituto para o Desenvolvimento da Habitação Ecológica)

CONSTRUÇÃO ECOLÓGICA E CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL

Na Europa, estima-se que a construção civil consuma aproximadamente 40% da energia total utilizada, além de ser responsável por cerca de 30% da emissão de CO2 e 40% dos resíduos gerados pelo homem. Responde ainda por 15% a 50% do consumo de recursos naturais.
No Brasil, 220 milhões de toneladas/ano de agregados naturais são consumidos para produção de concreto e argamassas e cerca de 70% da madeira usada aqui não provém de manejo florestal adequado.
Após a Rio 92, com a elaboração da Agenda 21, diversos segmentos como a construção civil e a arquitetura foram permeados pelos conceitos de sustentabilidade e desenvolvimento sustentável, definido como um modelo econômico que atende às necessidades das gerações do presente sem impossibilitar às gerações futuras satisfazerem suas próprias necessidades.

“Toda construção ecológica é sustentável, mas nem toda construção sustentável é ecológica”.
Construção ecológica ou natural é aquela que permite a integração entre homem e natureza, com um mínimo de alteração e impacto sobre o meio ambiente, usando os recursos naturais de maneira integrada e, quase sempre, intuitivamente. Usa materiais e recursos naturais disponíveis no local ou na região, lançando mão de tecnologias sustentáveis de baixo custo e consumo energético, tais como adobe, terra crua, bambus, fibras, tratamento de efluentes por plantas aquáticas, energia eólica via moinho de vento, etc. Esse tipo de construção é mais adequada a áreas rurais ou distantes de grandes centros urbanos, onde os recursos locais favorecem essas iniciativas e onde a comunidade usuária não excede a capacidade do ecossistema de digerir, degradar e processar os resíduos gerados (dejetos, efluentes, lixos orgânicos diversos). Produzindo habitações com excelente conforto técnico e acústico, sem poluição interna ou circundante, a construção natural é muito comum nas ecovilas e comunidades autóctones que ainda mantenham seus padrões de cultura e comportamento.
Já a construção sustentável promove intervenções sobre o meio ambiente, adaptando-o para as necessidades de uso, produção e consumo humano, porém sem esgotar os recursos naturais e preservando-os para gerações futuras. É mais viável em áreas de grande concentração urbana, uma vez que se inserem dentro do modelo sócio-econômico vigente e requer técnicas e sistemas de gestão ambiental. Procura utilizar fontes de energia renováveis e tecnologias sustentáveis para gestão de resíduos gerados na construção e tratamento de água e esgoto, controle de todos os poluentes presentes na obra (tintas, vernizes, colas, etc.), conforto termo-acústico, etc. Utiliza materiais sustentáveis industriais, materiais reciclados de origem variada e ecoprodutos em todas as instâncias da obra, procurando abolir os materiais condenados em bioconstrução , como tubos de PVC, o cimento amianto, o alumínio e todos os potenciais emissores de compostos orgânicos voláteis (COV’s), altamente prejudiciais à saúde.
Nos próximos artigos falaremos mais detalhadamente sobre as construções sustentáveis.


Maria Clara Giannelli Feitosa (claragiannelli@uol.com.br) é arquiteta, paisagista, fotógrafa, e membro do grupo ecológico Maitan.

Fonte: IDHEA (Instituto para o Desenvolvimento da Habitação Ecológica)

BIOARQUITETURA: MAIS UM ESTILO OU UMA NECESSIDADE???

O E-mail caiu como um presente na minha caixa de entrada. Entrei no site e me senti atraída logo de cara : Bioconstruindo 2003 -uma semana de vivência prática num ecocentro em Goiás, conhecendo e experimentando técnicas de bioarquitetura. Enviei a inscrição, esperei a confirmação e pronto! Arrumei a mochila, tirei o pó da barraca e, num domingo de julho, como nos tempos de faculdade, lá fui eu rumo a Pirenópolis. Mapa na mão, saltei no trevo de entrada da cidade dirigindo-me ao posto de gasolina para me informar onde era o IPEC. Francisco, um colega arquiteto que estava chegando de Manaus foi avisando: não tem taxi aqui, temos que seguir a pé por aquela estrada. Olhei a mochila, a barraca, o sol do cerrado e, “franciscanamente” concluí: “É, de taxi não ia ter graça mesmo, assim a gente já vai entrando no espírito da coisa...”. E assim, lembrando as célebres palavras do “grande filósofo” Vicente Matheus – quem sai na chuva é pra se queimar – lá fomos nós, Francisco e eu, pé na estrada, rindo muito, atrás da tal Bioarquitetura. Francisco era arquiteto recém-formado que pegou o canudo e se mandou para Manaus para trabalhar com projetos ecológicos. Enquanto falava de sua experiência seus olhos brilhavam e pensei comigo: “se é o sonho que move as nossas vidas, quem sabe não é essa a hora de voltar a sonhar...”

Ao chegar, o primeiro sentimento foi de admiração: a diversidade das técnicas construtivas, a liberdade presente nas formas orgânicas das construções, a criatividade dos acabamentos, os mosaicos em toda parte, a preocupação estética unida à preservação do meio-ambiente. Tudo ali transpirava criatividade, harmonia, respeito à vida, seriedade, firmeza de propósitos, alegria de ter um ideal e vê-lo se tornando realidade.
Como estávamos atrasados, fomos direto para a área de convivência onde aconteceria o círculo de integração para a apresentação dos quase 80 participantes e da programação das oficinas que teriam início no dia seguinte. Como eram muitas, tivemos que escolher as que mais nos interessavam. Iniciávamos as manhãs com prática de ioga ou tai-chi, seguidos do café da manhã e do círculo de integração para troca de experiências. Só então partíamos para as oficinas do dia. O trabalho era ao mesmo tempo duro e prazeiroso para aqueles que realmente se dispunham a colocar a mão na massa (e quase todos se dispunham!). Antes do almoço, um rápido banho de cachoeira para tirar o suor. Após a refeição, geralmente tínhamos uma palestra rápida e então continuávamos com as oficinas até o fim da tarde. À noite, depois do jantar, apesar do cansaço não faltava a fogueira com música, danças (circulares, indígenas, forró...).

CONHECENDO O IPEC
O Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado é um centro de referência e capacitação em permacultura e ecovilas que tem como objetivo difundir e estabelecer modelos e estilos de vida sustentáveis. Seus objetivos são:
- Inspirar, criando o desejo de mudança a partir de exemplos práticos.
- Informar, alimentando o desejo de mudança com informação completa e apropriada.
- Capacitar, provendo o apoio técnico.
- Experimentar, oferecendo espaço para idéias e invenções ecológicas.
Criada em meados dos anos 70, a Permacultura , muito mais que um método para o planejamento de ecossistemas cultivados, tornou-se um sistema de design para a criação de ambientes humanos sustentáveis, cujo objetivo é a criação de sistemas que sejam ecologicamente corretos e economicamente viáveis, que supram suas próprias necessidades, não explorem ou poluam e que, assim, sejam sustentáveis a longo prazo. É dentro desses princípios que aparece a Bioarquitetura (ou arquitetura ecológica), baseada no uso de técnicas construtivas que causem o menor impacto ambiental possível (através da utilização de materias encontrados no lugar e do aproveitamento de recursos naturais renováveis como sol, vento, chuva) e buscando um design eficiente e um posicionamento correto das casas, adaptado ao meio ambiente e levando em conta o relevo local, as características climáticas, a vegetação ao redor, a forma de lidar com os resíduos sólidos e líquidos e, sobretudo, o bom-senso.
Localizado numa propriedade rural, o Instituto mantém uma programação de cursos durante o ano todo, além de um programa de estagiários de todo Brasil que vêm cursar a Ecoversidade, residindo ali por algum tempo para aprender as técnicas e transmiti-las nas suas comunidades. Todas as construções e equipamentos existentes no Instituto são projetadas de acordo com a técnica mais adequada e sua execução concretizada durante os cursos. Hoje já existe pelo menos um exemplar acabado de cada técnica utilizada. Tudo lá é planejado de maneira a reaproveitar materiais e recursos renováveis, evitando o desperdício. Visitando o Ecocentro podemos entender como tudo funciona de forma integrada, com as sobras de um sistema sendo reaproveitadas em outro.
A maior parte das edificações utilizam a terra como matéria básica, visto ser este o material mais disponível no local. Diversas são as técnicas de construção com terra : adobe, super-adobe, taipa de pilão, taipa leve (com palha seca), COB. O bambu e o eucalipto também são utilizados, porém em menor escala, já que não são fartamente encontrados na região. Sanitários compostáveis do tipo seco ( não usam água para descarga) transformam o esterco humano em um composto rico que é devolvido ao solo na adubação de jardins, além de economizar água e evitar a poluição dos rios. Um sistema de filtros vivos limpam as águas cinzas da cozinha, chuveiros e tanques, que são utilizadas para regar as hortas e pomares. A água de chuva dos telhados também é coletada e armazenada em reservatórios para ser utilizada na irrigação e na limpeza. O aquecimento da água dos chuveiros é feito por um aquecedor solar de baixo custo construído com placas de forro PVC pintadas de preto, construído no próprio Ecocentro. Todos os restos de cozinha, madeira, jardins e esterco animal são compostados e transformados em adubo orgânico.
Embora essas atitudes ecológicas sejam, a princípio, iniciativas individuais – cada um fazendo a sua parte – é justamente quando adquirem um sentido coletivo que passam a exercer uma função transformadora, agregando as pessoas em torno de um mesmo ideal de morar, de se relacionar, de viver enfim. É nesse contexto que surgem as Ecovilas, trazendo uma nova proposta de viver com mais saúde e qualidade. Mas esse já é um outro capítulo...


IPEC (Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado) – Pirenópolis/GO
Site: www.permacultura.org.br/ipec

Maria Clara Giannelli Feitosa (claragiannelli@uol.com.br) é arquiteta, fotógrafa, mosaicista e membro do grupo ecológico Maitan

TRANSFORMANDO LIXO EM ADUBO

Um cantinho de 1,20m2 no seu quintal: isso é tudo que voce precisa para montar uma pequena composteira e transformar o seu próprio lixo num excelente adubo orgânico para o seu jardim, sua horta ou seus vasos de plantas. Fazendo isso você estará também ajudando a reduzir o volume de lixo que vai para o aterro sanitário e evitando a poluição do ar ao mostrar aos outros que não é preciso queimar os restos de podas dos jardins.
Comece separando o lixo orgânico: sobras de comida, cascas de legumes e frutas, galhinhos, grama cortada, ossos, casca de ovos, esterco, serragem, flores e verduras murchas, borra de café, etc. (vidros, pláticos e metais você entrega para o pessoal da reciclagem).
Reserve um canto no seu quintal, de preferência encostado no muro e que esteja à sombra, para montar a sua composteira. Voce pode construí-la medindo 1,50m x 0,80m e 0,80m de altura, usando tijolos, blocos ou tábuas. Faça uma divisão no meio. Se vc tiver espaço no jardim, pode também fazer um buraco para enterrar os resíduos orgânicos.
O lixo orgânico separado deve ser depositado num dos lados da composteira e coberto com serragem, folhas ou grama cortada. Em seguida jogue água para molhar essa cobertura. Cubra com um plático ou com tábuas para proteger do sol e da chuva. A cada três dias, revolva o monte passando-o de um lado para o outro. O aquecimento do material orgânico após ser revolvido e a presença de insetos como minhocas, tatuzinhos e piolhos de cobra indicam que já está em fase de decomposição. O monte deverá ser revolvido e regado por uns dois meses aproximadamente. Se vc conseguir revolver o monte sem trocá-lo de lado, pode usar a outra metade para começar outra compostagem Quando o monte parar de esquentar e adquirir um odor agradável de terra e uma cor marron escura, o composto estará pronto e já poderá ser utilizado para adubação.

Maria Clara Giannelli Feitosa (claragiannelli@uol.com.br) é arquiteta, fotógrafa, mosaicista e membro do grupo ecológico Maitan.

TERRA, PLANETA ÁGUA: ATÉ QUANDO???

A existência de todo ser vivo em nosso planeta depende de um fluxo de água contínuo e do equílíbrio entre a água que o organismo perde e a que ele repõe.
O planeta Terra, pelo que se sabe até hoje, é o único a possuir água em abundância: 70% da sua superfície. No entanto, apenas 3% é água doce, sendo 1% de água potável e 2% compondo as geleiras. O Brasil aparece como um país privilegiado no que se refere à quantidade de água, já que detém 13,7% de toda a água doce do planeta.
Apesar dessa situação aparentemente confortável, a água tem se tornado cada vez mais um elemento de disputa entre as nações, devido à crescente escassez que se agrava à medida em que aumenta a população mundial. Há nove anos atrás, um relatório do Banco Mundial já alertava para o fato de que futuros conflitos mundiais acontecerão não por causa de petróleo, mas por causa da água.
O custo de se ter água tratada para consumo em nossas casas é alto, tendo em vista os condicionantes de quantidade e qualidade desse bem. Com o grande desenvolvimento tecnológico, o homem passou a interferir de maneira indiscriminada e agressiva na natureza, desviando cursos de rios, represando grandes quantidades de água, provocando alterações na temperatura, na umidade, na vegetação e, principalmente, poluindo e contaminando os mananciais. Além disso, a maioria das pessoas tem o costume de desperdiçar água. Com o aumento do consumo fica cada vez mais difícil captar água de boa qualidade, fazendo com que seja buscada cada vez mais longe , encarecendo o processo.
A dessalinização da água do mar e o aproveitamento das geleiras são soluções possíveis, porém caras e fora do alcance da maioria dos países que sofrem com a escassez.
Assim, a proteção dos manancias ainda conservados, a recuperação daqueles já prejudicados e, sobretudo, a educação da população consumidora para a formação de uma consciência ecológica para uma vida em harmonia com a natureza, são os caminhos mais eficazes de que dispomos para garantir um futuro com água tratada e com saúde para as nossas vidas.
Como podemos fazer a nossa parte? Estabelecendo um novo jeito de pensar e de agir, modificando hábitos visando utilizar a água de forma racional, sem desperdícios e respeitando a capacidade dos recursos hídricos.
Alguns costumes já podem ser introduzidos no nosso cotidiano sem grandes sacrifícios, como cuidar para que não ocorram vazamentos, manter as torneiras fechadas enquanto escovamos os dentes, reaproveitar a água da lavagem da roupa para lavar quintais, não “varrer” calçadas com água, instalar vasos sanitários com caixa de descarga (e não válvula hidra), lavar os carros com menos frequência, regar jardins e hortas na parte da manhã ou no final da tarde, utilizar menos detergentes, não jogar lixo nos rios ou nas ruas, plantar árvores, denunciar empresas que poluem e desmatam indiscriminadamente, utilizar técnicas de irrigação adequadas na agricultura, adotar o uso de água reciclada nas industrias, enfim... um dia vamos perceber o quanto valeu a pena!


Maria Clara Giannelli Feitosa (claragiannelli@uol.com.br) é arquiteta, paisagista, fotógrafa, e membro do grupo ecológico Maitan.